Tuesday, September 30, 2008

"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara".

Em meio a tantas crises (cíclicas ou não) do capitalismo, dos governos, das economias e de todas essas "instituições" que criamos para um convívio "suportável", perdemos o foco da verdadeira crise que assola o grande homem moderno, dominador de tecnologias surreais. Protegidos por subsídios agrícolas, commodites, proteccionismo e políticas cambiais positivas (ou não), primeiro e terceiro mundo se vêem unidos em um mesmo mal (o único que, além da morte, não possui exigências e preconceitos): a cegueira.

E seguindo os passos de Saramago é que descrevo a doença. Temos multidões de seres pobres de afeto, que só se reconhecem nos trombões que o acaso lhe proporcionam. Seres cujo nome ou profissão não o distinguem dos outros, todos estão perdidos atrás de uma espessa camada de "mar de leite", que os impede de enxergar o próximo. E enfermos, voluntariamente ou não, nos afastamos da sociedade, à espera de uma cura que não vem.

Nosso maior mal não é a desvalorização de uma moeda, como o Zimbábue enfrenta, ou a maior crise desde 1929, como os EUA força o mundo a enfrentar, todos sofremos da carência de atenção. E a cegueira, a doença oficial da vida moderna, só atenua mais o individualismo em todos nós. Temerosos do que o contato pode causar, nos enclausuramos em grandes mansões (quando possível) e não raciocinamos que já estamos doentes.

Precisamos de olhos que vejam, bocas que falem, mãos que acarinhem para que, depois, possamos enfrentar o dragão da inflação e as sucessivas crises que hão de nos esperar.

Friday, September 26, 2008

"- O doutor quer saber como é o negro? Venha cá.
Vossa Senhoria 'garre um juda de carvão e judie dele; cavoque o buraco
dos olhos e afunde dentro duas brasas
alumiando; meta a faca nos beiços e saque fora os dois;
'ranque os dentes e só deixe um toco; entorte a boca de viés
na cara; faça uma coisa desconforme, Deus que me perdoe.
Depois, como diz o outro, vá judiando, vá entortando as
pernas e esparramando os pés. Quando cansar, descanse.
Corra o mundo campeando feiúra braba e aplique o pior no
estupor. Quando acabar 'garre no juda e ponha rente de
Bocatorta. Sabe o que acontece? O juda fica lindo!...
Eduardo desferiu uma gargalhada."

Eis a descrição da feiura pelo Monteiro Lobato. Uma criatura retorcida, com olhos afundados, boca sem dentes e, misteriosamente, NEGRO.

O preconceito racial, apesar de todo o discurso da "multiplicidade" de cores, ainda é uma realidade muito forte no Brasil. Herança de mais de trezentos anos de escravidão africana, na qual os negros eram tratados como objetos - tanto que ao estudarmos a economia do Brasil na república velha veremos que "surtos industriais" ocorreram pela "sobra" do dinheiro empregado no "comércio de negros". Não é tão fácil se livrar desse fardo...Tanto que nosso pré-modernista Monteiro Lobato coleciona arcaísmos e um deles é o preconceito.
Mais desanimador ainda é ver que quase um século após a publicação de Urupês, depois da libertação do continente africano, da queda do apartheid, de Nelson Mandela ... estamos nós aqui, discutindo (monologando, seria melhor) sobre o mesmo problema do "preconceito nosso de cada dia".

Se a tendência é fazer vestibular ..




Não que seja surpresa a alguém, mas este ano não é, decididamente, o mais memorável da minha vida. Nada contra quem goste de passar os dias com a pressão de um vestibular pela frente, sabendo que não há vagas a todos -e, principalmente, que "os outros" (sempre eles!!) estão estudadno mais, porém cansei de "brincar de darwinismo social".


Contra todos os meus princípios (ha-ha) torço para um conservadorismo cada vez maior em relação a tudo que possa ser cobrado em um vestibular, e nao é pouco. Fungos, parem de liberar ergotomina. Algas, não façam fotossíntese. Taenias, arranquem suas ventosas. A biologia moderna com seus "multi" e "pluri" celularismos não tem mais a graça que tinham. Índia, ceda logo a Caxemira! E todo poderoso EUA, pare de construir bases militares mundo afora - principalmente nessas ilhas à esquerda do nada. Cada mudança é um fato a mais a decorar (quer dizer, "aprender didaticamente com Paulo Freire" ¬¬) e pode ser cobrado o que era cobrado antes, o que é cobrado agora e, no ritmo de "evolução" que o vestibular (personificado quase) avança, serão cobradas as tendências para o futuro.


E, como se não bastasse decorar tudo isso que eu não decorei, fazer todos esses exercícios que não fiz e ler àquela revista que comprei (e não li), ainda há o desgaste psicológico de escolher o curso - nem falo no de$ga$te financeiro, hein! Oscilando entre a matéria amada, as "tendências" (lá vem elas de novo!!) do mercado, o retorno financeiro, o reconhecimento profissional, (...), há de se escolher o curso certo para um futuro brilhante (e menos do que isso é falta de ambição...). E de engenharia da pesca à têxtil, há uma infinidade de opções que, paradoxalmente, não se encaixam com praticamente nenhum perfil.


Soma-se a isso a paranóia genética de alguém com 17 anos (no meu caso, 16), que além de dramatizar mais a situação já dramática, precisa corresponder às expectativas dos pais, professores, avós, tios, madrinhas, colegas, animais de estimação, faxineira da vizinha, bichos de pelúcia, amigos imaginários e a si mesmo, nesta ordem der relevância.


Aí está o perfil psico-social-educacional-político-ambiental (?) da pessoa que vos fala.


(Detalhe que até pra vestibular já existe livro de auto-ajuda!!!!)