"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara".
Em meio a tantas crises (cíclicas ou não) do capitalismo, dos governos, das economias e de todas essas "instituições" que criamos para um convívio "suportável", perdemos o foco da verdadeira crise que assola o grande homem moderno, dominador de tecnologias surreais. Protegidos por subsídios agrícolas, commodites, proteccionismo e políticas cambiais positivas (ou não), primeiro e terceiro mundo se vêem unidos em um mesmo mal (o único que, além da morte, não possui exigências e preconceitos): a cegueira.
E seguindo os passos de Saramago é que descrevo a doença. Temos multidões de seres pobres de afeto, que só se reconhecem nos trombões que o acaso lhe proporcionam. Seres cujo nome ou profissão não o distinguem dos outros, todos estão perdidos atrás de uma espessa camada de "mar de leite", que os impede de enxergar o próximo. E enfermos, voluntariamente ou não, nos afastamos da sociedade, à espera de uma cura que não vem.
Nosso maior mal não é a desvalorização de uma moeda, como o Zimbábue enfrenta, ou a maior crise desde 1929, como os EUA força o mundo a enfrentar, todos sofremos da carência de atenção. E a cegueira, a doença oficial da vida moderna, só atenua mais o individualismo em todos nós. Temerosos do que o contato pode causar, nos enclausuramos em grandes mansões (quando possível) e não raciocinamos que já estamos doentes.
Precisamos de olhos que vejam, bocas que falem, mãos que acarinhem para que, depois, possamos enfrentar o dragão da inflação e as sucessivas crises que hão de nos esperar.